terça-feira, 18 de julho de 2017

Angel

Capítulo quatro 

Preto, preto, preto. Branco, branco, branco.... Amarelo. Sorrio pegando o vestido. Ponho em frente ao corpo e olho no espelho. Sempre dizem que eu fico bem de amarelo por causa do meu cabelo. Ficar bem é uma das minhas prioridades na vida. Não é porque eu não sou a pessoa mais popular do mundo que eu tenho que ser desconhecida e mal vestida.
Coloco o vestido e sento na pentiadeira, penteando o cabelo. As vezes ele fica liso demais e outras vezes meio ondulado, hoje ele está liso demais. Termino e deixo de lado a escova, começo a fazer uma maquiagem leve pra passar a noite e termino com o batom rosa claro. Estou pronta. Saio do quarto e desço as escadas. Sento na mesa de jantar e espero até que alguém apareça. Hoje é um dia especial, aniversário do meu pai. Todos os anos ele evita fazer uma grande festa, pedindo só um bom jantar em família. E hoje fiz questão de ser a primeira a descer. Escuto os passos na escada e olho para trás. Sorrio abertamente, e levanto indo até ele. 
- Parabéns, papai- O abraço apertado, ele retribui o abraço com um sorriso nos lábios
- Obrigado, princesinha! 
- Ora ora! Não comecem a festa sem mim!- Olhamos para a escada a tempo de ver minha terminar de descer os últimos degraus da escada e se aproximar
-Não é bem uma festa, querida
-Celebrar mais um ano sempre é uma festa, meu bem- Ela sorriu e eles trocaram um selinho- A mesa está linda, Catarina dessa vez se superou!
- Ela sempre se supera a cada ano- comentei
- É verdade, vamos comer? Parece estar tudo muito delicioso- Meu pai falou e nós afirmamos juntas, sentando a mesa
- Vamos sim, querido
Meu pai se adiantou para puxar a cadeira para minha mãe
- Obrigada, querido - Ela sorriu 
- De nada- Ele se sentou. Observo eles com um sorriso, sempre quis encontrar alguém que me trate tão bem quanto meu pai trata minha mãe. Na verdade eu já tenho essa pessoa, só basta ele também perceber que eu sou a menina perfeita para ele. Com os pratos já servidos, nós começamos a comer e a conversar sobre coisas aleatórias. Meu pai contava as paidas de sempre fazendo minha mãe e eu rir.
- Gosto de você de amarelo, Aurora. Valoriza seu cabelo- Ele diz, depois de contar a sua última piada. Olhei para mim mesma sorrindo com o acerto da escolha 
- Obrigada, papai
- Nossa filha tem um excelente gosto!- Minha mãe fala, também com um sorriso
- Eu herdei de você- Pisco pra ela que pisca pra mim de volta. Nosso famoso toque de cumplicidade.
- Com licença- Catarina diz, entrando na sala. Ela trabalha com a gente desde que eu era bebê
- Pra você toda, Catarina. E muito obrigado, tudo estava muito delicioso
- O senhor merece! Posso retirar os pratos para servir a sobremesa? - Nós afirmamos e assim ela fez. Olho para a sobremesa, bolo de chocolate. 
- hmmmm Parece estar melhor  ainda que o jantar- Ponho um pedaço no prato, provando  e balanço a cabeça- Magnífico!
- Concordo plenamente -Meu pai fala ao terminar de mastigar
-É o favorito de vocês- Minha mãe ri e prova o seu pedaço- Hmmmm parabéns Catarina, tudo está divino hoje!- Catarina ri e faz uma reverência
- Obrigada, obrigada. Agora se me dão licença...- Nós assentimos e ela se retirou. Terminamos de comer o bolo que estava maravilhoso, com direito a repetir só a cobertura. Entregamos os presentes a meu pai e ele agradeceu, paraceu estar bem, o que também me deixa feliz. Ele voltou a contar piadas enquanto tomava uma última taça de vinho com minha mãe. Depois de tantas risadas, eles se levantam anunciando que vão se recolher
- Boa noite, princesa. Não vá dormir muito tarde que amanhã tem aula - Meus pais me dão um beijo na testa
- Pode deixar, general!- rio- Boa noite, e parabéns de novo, papai- sorrio
- Obrigado- Ele sorri e acena junto com a minha mãe. Eles saíram da sala menor pra onde tínhamos ido depois do jantar e fiquei olhando para eles até que os perdi de vista, quando começaram a subir as escadas. Me sento novamente no sofá e abraço uma almofada, encostando a cabeça no sofá. Fecho os olhos e aperto a almofada. Hoje a noite foi muito boa e eu não quero que isso acabe amanhã. Por mim as vezes eu poderia fazer estudo domiciliar , mas meus pais não deixam, dizem que a socialização é importante. Mal eles sabem que eu não tenho quase nenhuma socialização, graças ao que aconteceu quando eu era menor. Quando eu era pequena eu tive um problema de saúde, e enquanto eu estava em casa fazendo o tratamento necessário, a notícia se espalhou pela escola. A outras crianças disseram que era algo nojento e contagioso, por mais que eu dissesse que não era e que de fato não fosse, eles preferiam curtir a brincadeira de fugir de mim, de se afastar e sentir nojo de mim, preferiram me isolar na doença terrível que criaram pra mim, preferiram me ignorar e acreditar nas fofocas maldosas que contavam do que em mim.  E quando eu voltei pra escola, finalmente descobri que não tinha mais nenhum amiguinho e até hoje não tenho, parece que eles ainda tem medo de pegar doença ou sei lá mais o que..... Enfim. A escola nem sempre é fácil. As pessoas não são fáceis.  Ainda mais quando você  Vê a pessoa que ama se agarrando com cada piranha que passa de saia e que implica com você.  Balanço a cabeça, como eu disse, a noite foi muito boa e não quero estragar isso. Amanhã começa um novo ano na escola, um novo ano em  que eu vou  ser muito mais feliz do que fui antes. Amanhã vou ver minha amiga. vou ver meu amor. E  eu vou conseguir ser mais feliz, sim. É uma promessa que eu me faço a partir de agora.

Angel

Capítulo três 

Podia ter sido diferente. Tudo poderia ser diferente na minha vida. Mas para que tudo pudesse ser diferente, meus pais ainda teriam que estar vivos. Eles morreram quando eu tinha doze anos, de uma forma que é normal hoje em dia, acidente de carro. Eu estava dormindo na casa do meu melhor amigo nesse dia, e quando eu soube, ele foi o primeiro a me abraçar. Só isso. Palavras aquela hora não foram necessárias. Depois disso eu tive que ir morar com o único parente próximo dos meus pais, que ainda mora na cidade, meu tio Jonathan. Ele é uma boa pessoa, não é extremamente carinhoso ou próximo a mim, mas me acolheu e me deu teto, o que naquela época era tudo o que eu poderia pedir. Nunca fui rico, e ainda vai demorar um pouco para que eu possa receber a herança dos meus pais que está toda no meu nome. É, Miles Jacobs seria sempre um cara normal da classe média. E também seria um cara que nunca entenderia biologia tão bem quanto entende matemática, mesmo que eu passe horas estudando como agora. 
Matemática. Nem sempre fui excepcionalmente bom nessa matéria ate que encontrei uma razão para isso. Quando Aurora entrou por aquela porta pela primeira vez e se pôs de frente para a sala toda me dando o sorriso mais lindo e tímido de todos, essa se tornou a minha motivação. Impressionar de todas as formas possíveis aquela garota. Pena que até agora o plano não tenha dado muito certo, mesmo que durante três meses eu enviasse flores para ela (anonimamente, é claro) na esperança idiota de que ela pensasse em mim. Idiota porque se eu não dizia que era eu nos cartões, era mais do que claro que ela nunca saberia e que eu estava sendo um tonto por esperar o contrário. Sendo prima do Niall nós meio que sempre nos conhecemos, mas estudávamos em escolas diferentes e também contava o fato de que quando somos crianças sempre se tem aquela barreira invisível que separa, de certo modo, meninos e meninas. Até ai confesso que não tinha prestado muita atenção nela, e assim foi até aquele fatídico dia. O dia em que todas as minhas atenções se viraram só para ela. Eu tinha só quinze anos e já estava pronto para pedi-la em casamento ali mesmo- é, eu sei. Sou um eterno e antigo romântico apaixonado e abobado-. Mas por mais que eu fizesse de tudo, de que nos encontramos em todas as datas comemorativas e de que conversássemos na escola, não passava além disso. Sempre teve um impedimento muito grande entre nós, muito maior do que o meu anonimato e o impedimento que mais a machuca, o que acaba por consequência me machucando muito mais também. Mas ela não é a única parte da minha vida. Minha vida pode ser normal, mas nem por isso é chata. Por ser filho único, sempre brinquei em casa na maioria das vezes com o Niall ou então sozinho mesmo, quando meus pais estavam ocupados trabalhando. Isso me gerou uma criatividade e uma imaginação muito férteis. Algumas pessoas chegam a dizer que isso é um privilégio, e que eu posso fazer muita coisa com isso, o que de fato eu desejo mesmo fazer, mas eu apenas digo que isso tudo foi fruto de uma boa infância apenas. Comecei a usar isso a meu favor, quem sabe a criatividade algum dia me desse algum retorno bom de fato. Acho que meus pais teriam orgulho disso. Como eles só tinham a mim, fazer eles terem orgulho de mim sempre foi uma das minhas maiores preocupações então sempre procuro fazer tudo direito. Quando eles ainda estavam aqui, isso parecia dar certo, eu sentia no olhar e nas palavras deles, então gosto de manter em mente que ainda é assim. As conversas é uma das coisas que mais sinto falta... Quanto ao resto, sou um livro aberto de entrelinhas complicadas de se entender. Posso ser bem comunicativo, a ponto de nunca correr o risco de ninguém nunca me taxar de tímido, por mais que quando meus pais morreram algumas pessoas dissessem que isso poderia mudar. Também sou sincero e na maioria das vezes sou bom conselheiro. Não tenho problemas para conversar sobre coisas que me afetam diretamente ou me fazem mal. Era isso o que todos os psicólogos que eu frequentei durante dois anos me diziam que eu teria, e eu sempre discordei pela criação muito aberta que tive. Mas acho que minha mãe sabia de algo sobre o futuro, ou então de fato me conhecia melhor do que eu mesmo-ela sempre alegava isso ou então tinha conhecimento sobre psicologia infantil avançada- quando ela olhava nos meus olhos ela sempre tinha a mania de dizer que por mais que eu falasse as coisas com palavras, meus olhos pareciam esconder verdades não ditas. Eu apenas balançava a cabeça negando e ria, sem responder mais nada ou dizia que isso não era verdade e sim uma besteira de mãe que estava tentando arrancar de um jeitinho carinhoso mais segredos sobre a suposta vida secreta do filho, meu pai concordava comigo também e logo trocávamos de assunto para alguma coisa mais divertida. Sinto falta da diversão e das risadas também....
Hoje em dia, quando olho no espelho e me encaro por algum tempo, não tenho mais tanta certeza como antes que fosse só isso mesmo. Sinto que as vezes a honestidade não chega tão fundo quanto deveria quando se trata de mim mesmo, que não faz o mesmo efeito sobre mim mesmo como eu consigo ser com os outros ou como eles conseguem se sentir sobre si próprios. Mas se de fato isso fosse verdade, além da minha mãe somente uma única pessoa a mais nesse mundo poderia descobrir isso em mim. E até que ela descubra isso vai ficar escondido só para mim.

Angel



Capítulo dois 


Despertador, despertador, despertador. O insuportável som do despertador tocando nos meus ouvidos. Ponho o travesseio sob a cabeça para abafar barulho e aperto os olhos, desejando imensamente que o barulho parasse e eu pudesse voltar a dormir, mas ele continua e continua sem parar. Estico o braço, o jogando no chão e finalmente o barulho para. Sorrio levemente com isso. Viro de frente na cama e abro os olhos devagar. Mais um dia, mais uma vez escola, mais uma vez tudo de novo. É sempre a mesma coisa depois de acordar. Levanto, e a primeira coisa que faço é passar a mão no cabelo o bagunçando ainda mais. Depois ando até a porta do banheiro e estico os braços, seguro na barra de flexão dobrando os joelhos e faço uma serie. Logo após entro no banheiro, tomo banho e visto o uniforme da escola, pegando o meu material. É como um pequeno ritual diário. Alguns diriam que ter um hábito pra levantar todas as manhãs é uma coisa meio de "menininha". Já eu, digo que é o que faz o meu dia funcionar bem. Desço as escadas indo direto para a cozinha tomar café da manhã. Se não fosse o vento passando pelas janelas e alguns empregados passando pelos corredores a casa estaria quase sempre Vazia, por isso não estranho nem  um pouco em não enxergar ninguém.
- como se fosse novidade....- falo sozinho enquanto me sento e balanço a cabeça, rindo baixo. Olho para o calendiario que ficava em uma das paredes, ao lado da mesa e vejo que meus pais tem mais uma viagem marcada para às quatro da tarde, então quando eu chegasse da escola provavelmente não teria ninguém em casa, novamente. Para algumas pessoas pode ser estranho saber notícias dos seus pais por um calendário, mas para mim não, tem sido assim desde sempre. Tomo o café rapidamente e começo a comer as torradas.
- Bom dia, patrãozinho!-  Uma das funcionárias entrou na cozinha. Não gostava de ser chamado assim, não sou eu quem paga o salário deles! ainda mais quando se tem o "inho" no final. Reviro os olhos e quando acabo de mastigar repondo.
- Bom dia- Termino de comer tudo e levanto pegando minha mochila. Saio de casa e entro no carro, tomando o rumo da escola. Assim que chego estaciono na vaga de sempre e saio do carro pegando a mochila. Olho ao redor e vejo as mesmas caras, nada surpreendente novo. Olho para o lado e a vejo chegando. Também não chega a ser algo novo, já que ela se transferiu faz algum tempo. Mas mesmo assim, mesmo que eu a veja todos os dias, sempre tem algo diferente em olhar pra ela. Sempre o coração da um pequeno e bobo salto idiota, que eu impediria se pudesse. Engraçado e irônico chegarmos na mesma hora hoje, já que ela sempre chega mais cedo que eu ou quase todo mundo. Ela desce do carro do pai com a bolsa encima do ombro direito. O cabelo castanho partido para o lado, com  um pequeno laço, daqueles grampinhos que as meninas gostam prendendo a franja. Taylor tinha se mudado pra cá no começo do ano, e desde que começou a estudar aqui, todos os caras queriam sair com ela. E todas as meninas queriam a novidade como amizade -por mais clichê que isso possa ser, é assim que acontece quando se tem "carne nova" na selva-.  E eu não era diferente dessas pessoas, queria muito  ficar com ela. Mas a triste realidade é que ela me dispensou, não me deu a menor chanche. O mundo do colégio, somos de mundo e de grupos diferentes. Eu era tudo que ela diz abominar e muitas dizem querer. Eu andava com pessoas que ela tinha nojo, mas que muitas pessoas gostariam de andar. Eu sou do tipo que não recebia "não" como resposta, e ela é do  tipo que me deu o meu primeiro "não" na vida. Sim, eu era popular e ela se colocou na situação de solidão. Um cara como eu receber um "não" de uma garota como ela, por mais linda que seja, não é nada clichê. Ela foi tão negativa com as pessoas, dizia abominar tanto o "tipo" que acabou ficando sozinha. As pessoas não gostam de quem não gosta delas ou das atividades festeiras, e isso acaba fazendo com que ela fosse esquecida por todos. Menos por mim e pela minha prima, que também era a melhor amiga dela. 
Sigo ela com o olhar, a vendo entrar na escola e seguir com a vidinha tranquila dela, por mais que o pai dela fosse uma figura importante, ela tinha uma vida normal demais. Balanço a cabeça afastando os pensamentos da minha mente, se pensasse por mais tempo no assunto não conseguiria me concontrar em nada mais. 
- Rindo sozinho Horan? Está no mundo da lua de novo?! 
- Se eu estivesse você apareceria só pra me arrancar de lá, não é mesmo, Miles?! - Virei o olhando, ele continha o mesmo sorriso sereno e familar
- Com certeza! Para isso que servem os irmãos de outra mãe!- Sorri com o comentário também, na maioria do tempo não podia evitar desejar que ele fosse meu irmão de verdade. Ele era. Somos amigos desde sempre, desde de que eu descobrir o que uma amizade verdadeira é. Se tem alguém com quem eu possa contar nessa vida, era o Miles!. Até mesmo no enterro da minha avó, quando tínhamos 10 anos, ela era a segunda pessoa mais próxima de mim na família, ele estava lá comigo. Eu não consegui chorar nesse dia, mas se tivesse chorado tennho certeza de que ele teria sido a pessoa a limpar as lagrimas.
- Então, como foram suas férias? - Perguntei, puxando algum assunto
-Boas, normais. - Ele deu de ombros sinalizando que foi tudo normal, mas mordeu o lábio inferior pensativo- Só pensei nela duas vezes na semana 
- Isso é ridículo Miles! Minha prima não vai te morder!- Assim como eu, meu melhor amigo me acompanha em uma paixão não correspondida também, até nisso combinamos. Mas a dele é mais antiga. Ele ama essa garota a exatos três longos anos, e por mais que tenha ficado com outras no caminho, é por ela que ele sempre sofreu. - Tem que falar com ela, não seja um cagão! - Rio  dando um tapinha nas costas dele. Ele balança a cabeça de leve
- Talvez um dia... E suas férias como foram? 
- Normais, legais e chatas. Tudo ao mesmo tempo 
- Você passou a última metade do mês em Veneza! Veneza!. Como pode chamar isso de "mais ou menos"?! 
- Eu não usei exatamente essa expressão pra descrever, e essa foi a parte legal das minhas férias e não a chata- Dou de ombros 
- Qual a chata então? 
- Eu estava com meus pais- Respondi, simplesmente. Ele aceitou a resposta porque isso já explicava tudo. Ele balançou a cabeça em uma afirmativa e aceleramos passo para entrar assim que escutamos o sinal tocar. Entramos e fomos até os nossos armários, um do lado do outro, e pegamos o que iríamos precisar. Seguimos para sala e sentamos em nossos lugares, assim a aula começa. Depois de passada todas as aulas do dia, saímos da sala e fomos em direção ao carro, todos os dias eu levava Miles em casa, era quando saímos pra algum lugar pra falar e fazer alguma merda.
- Até amanha parceiro!- Ele bagunça meu cabelo e sai do carro 
- Até amanhã!- Rio e ajeito o cabelo pra bagunça de antes. Vejo ele entrar e sigo pra casa. Quando chego e entro, não vejo nada além de vento, estou sozinho até que o calendário mostre a marca da volta dos meus pais, de novo.

Angel



Capítulo um 

~•1 ano antes •~ 
Dor. Dor era tudo que eu sentia em cada parte do meu corpo principalmente na cabeça, é ... A cabeça é definitivamente onde dói mais. O cheiro ao redor ainda era o mesmo de ontem álcool, maconha, êxtases, e outras drogas que agora não me lembro mais. E sentir esse cheiro tão forte assim só significa que ou eu ainda estou no mesmo lugar de ontem ou usei mais do que deveria e o cheiro realmente impregnou em mim. Escuto um barulho meio alto e tosco bem perto do meu ouvido, acho que um ronco, o que me faz ter que abrir os olhos pra ver quem é o porco que anda roncando perto de mim. Ponho a mão na testa um pouco em cima dos olhos para cobrir qualquer claridade excessiva que eu possa ter que encarar quando abrir os olhos e finalmente os abro bem devagar. A primeira coisa que vejo é algo que se parece com o teto de um carro, o que deve ser bom pois significa que não dormi jogada por aí na rua e sim muito provavelmente na mesma limusine que me trouxe pra festa ontem, olho para esquerda e dou de cara com o estofado preto do banco e quando escuto o ronco insuportável novamente viro a cabeça para a direita - o que me deixa um pouco zonza pelo movimento rápido - somente para me deparar com Austin quase todo em cima de mim, com aquelas pernas -que devem pesar mais agora que ele parece um peso morto jogado com a outra metade pra fora do banco - em cima da minha cintura. Deveria estar muito grogue pra não ter notado o ronco e o peso dele antes. Respiro fundo e recolho o máximo de forças e energias que me restam e estico os braços derrubando Austin no chão em cima de um novo pobre coitado, como ele não fez nenhum som acho que nem percebeu que acabou de ser jogado.
- Mas .... Que ... Merda! - Sussurro passando as mãos no rosto tirando os fios de cabelo que estavam caindo espalhados  pelos meus olhos, sento no banco e faço um coque frouxo no cabelo, ajeito o vestido nos lugares certos já que eu estava toda bagunçada. Olho para as pessoas ao meu redor e vejo os rostos conhecidos de meus amigos espalhados pelos cantos. Olho pra frente e faço uma careta vendo meus sapatos novos e caros no balde de gelo, pego eles deixando algumas gotas de agua caírem na camisa do Austin. Não acredito que gastei 200 pratas neles ontem só pra eles terem esse fim hoje! Nota mental: lembrar de me compensar por isso e comprar mais sapatos. Pego uma garrafa de champanhe que sobrou dentro do balde e levanto com cuidado passando por cima das pessoas no chão e finalmente saindo da limusine . Pelo sol que me atinge assim que ponho meus pés na rua devem ser umas seis da manhã, ótimo vou chegar relativamente cedo em casa. Saio andando com os olhos meio cerrados pela claridade e bebo um gole do champanhe, me despeço dos meus saltos os jogando fora na primeira lixeira que encontro por aí e tomo o rumo de volta pra casa. Chegando a única coisa que faço de útil é subir para o quarto, largar a garrafa que ainda segurava em qualquer lugar pelo chão, me jogar na cama e finalmente dormir. 
Algumas horas depois acordo sentindo um cheiro bom de café fresco, abro os olhos e vejo a xícara em meu criado mudo em uma bandeja  junto com um sanduíche e um remédio que deve ser pra dor de cabeça, provavelmente Clarissa  deve ter entrado aqui e deixado para mim, ela sabe de tudo mesmo. Levanto me arrastando da cama e tiro o vestido entrando no banheiro e o deixo no cesto de roupa suja, noto que ela deve ter jogado a garrafa fora também já que não tropecei nela enquanto caminhava. Entro no chuveiro tomando um banho quente e longo, quando termino visto uma lingerie básica e uma camisa grande deitando na cama novamente, tomo o remédio e como o sanduíche saboreando as mãos de chefe que Clarissa tem, começo a tomar o café e percebo que meu celular começa a apitar. Devem ser as notícias da festa de ontem já rolando por ai, pego e fico olhando algumas mas somente umas fotos  e fofocas que eu já sabia então nada de mais, termino o café e deito na cama ligando para Lindsay - minha melhor amiga - 
☎️ on 
- Alô gata! - ela fala ao atender logo em seguida dando aquela risada meio afetada 
- Hey! Espero não ter te acordado ou atrapalhado nada já que depois de ontem ainda deve estar aos amassos com o Sulkin - falo de um jeito afetado zoando com ela 
- Nem me lembre - ela fala com nojo- desperdício de beleza aquele menino tem , ele não beija tão bem quanto parece 
- Você não pareceu se importar nenhum um pouco com isso ontem , na verdade nem demonstrou, parecia que estava adorando já que não tirava a boca da dele !  - falei rindo 
- Ah você sabe como é né, é o preço que se paga pra se manter as boas relações, ele é tão rico que se desse folga uma vadia ia aparecer e eu perderia a mega cena 
- Sabe que não precisa do dinheiro dele, você tem tanta grana quanto
- Ele tem muito mais!- ela responde indignada - aliás da galera depois dele só vem você na lista dos mais ricos 
- Não me importo com isso - dou de ombros 
- É porque não precisa, se precisasse se importaria 
- Enfim, então não vai dar fim no romance ? 
- De jeito nenhum, eu posso aguentar uns beijos ruins  por uma bolsa Chanel nova toda semana- por mais que eu não pudesse vê-la agora sei muito bem que ela está com um sorriso no rosto imaginando quantas bolsas ela ainda vai poder comprar - Agora falando nisso, tenho que desligar estou fazendo compras te ligo mais tarde pra sairmos okay ? 
- Okay, se você diz - rio - eu vou voltar a dormir, e não compre nada laranja, essa cor não combina muito com você 
- Tem razão, valeu!- ela desliga 
- Bye - falo e desligo também logo voltando a dormir 
☎️ off 
Quando acordei novamente, já me sentia bem mais descansada e recuperada da noite passada, passei os dedos nos cabelos arrumando os fios bagunçados e sentei na cama pegando o celular, hora de ver o que mais a festa de ontem resultou. Entro no WhatsApp e vejo que tenho muitas chamadas no privado, de pessoas até que eu não conheço, então resolvo ignorar, entro no grupo da sala e sinto meu coração parar de repente quando começo a ler as conversas, e ver as fotos ....  e os vídeos. Com as mãos tremendo resolvo ver as conversas do privado. As mesmas fotos e os mesmos vídeos, pessoas me chamando de vadia, puta...e esses são só os bonitinhos da lista ... Nas fotos, nos vídeos ... Era eu ... Praticamente nua com vários caras ao meu redor - esses sim estavam completamente pelados- passando a mão em mim e mais uma menina que eu estava beijando .... Lindsey! Era a cena da suruba perfeita pra filha do político de uma cidade pequena participar, se não fosse pelo fato de eu não me lembrar de nada disso ou de estar visível que eu estava complemente chapada e se todos os outros rostos não estivem com uma faixa no vídeo MENOS O MEU!!!!!! e mesmo tendo certeza que nada aconteceu ali como parecia que tinha acontecido no momento me sinto completamente suja. As mensagens não paravam de chegar, pelo visto os sites de fofoca também já sabiam - claro meu pai é o maior político da cidade, surpresa seria se ainda não soubesse - as lágrimas já escorriam deixando meu rosto queimar, a única coisa que pude fazer foi gritar... Eu era a nova puta de 16 anos de uma das menores cidades do país ... eu era motivo que acabaria com a vida da minha família ... 
                                 ➰
Mais tarde, estava no meu quarto depois de ter ouvido o mais longo e pior sermão da minha vida, e eu mereci! Clarissa e minha  tentaram  me consolar mas nada adiantava até que elas  finamente me deixou sozinha, e quando isso aconteceu sai de casa a procura de respostas. Quinze minutos depois estava batendo desesperadamente  na porta da casa da Lindsey 
- Ah já vai, já vai - pude escutar ela dizer antes de finalmente abrigar a porta, quando olhou pra mim fez uma cara de sonsa - ah é só você .... Vadia - ela completa baixinho 
- Do que me chamou?- falou com todo o ódio do mundo 
- Você escutou ou está surda também ?! 
- Você estava naquela porra de vídeos também! Você sabia! E não me contou, ia me contar algum dia por a caso?- meus punhos estavam cerrados com tanta força que sentia as unhas perfurando a pele da minha mão 
- Não,não ia, você sabe que eu não sou boa pra dar más notícias - a indiferença  dela era tanta que eu nem conseguia me mexer de tão supresa do quanto burra eu pude ser por achar que ela fosse minha amiga 
- Você estava lá também! E sabe que nada aconteceu NADA! E por que  só o meu rosto está sendo mostrado quando na verdade a vadia era você o tempo todo ?! 
- Eu ? - ela ri - não é o que aquele vídeo mostra querida, e quando soubemos que o vídeo tinha vazado eu e os meninos agimos rápido pra apagar nossos rastros, sobrou pra trouxa que não estava aqui , nesse caso você, e além do mais é muito mais fácil pra você limpar a sua barra com o dinheiro que tem do que seria pra gente então não faça muito drama okay ?! E é melhor eu entrar não quero manchar a minha reputação  ficando aqui falando com uma puta que nem você, boa sorte querida - ela manda um beijo pra mim e fecha a porta antes que eu pudesse dar na cara dela como eu queria, nunca vou me perdoar por acreditar que pessoas assim pudessem ser minhas amigas, nunca! 
Mas apesar de tudo até que aquela vadia acertou quando disse que seria " fácil " limpar  a minha barra, as acessórias do meu conseguiram tirar as fotos e os videos de circulação da cidade e conseguiram acalmar os eleitores  do meu pai nas semanas que seguiram, porém nas escola eu continuei passando o pior dos infernos até que tive que sair de lá por não aguentar mais, aí tivemos que nos mudar aproveitando quando as pessoas começavam a esquecer mais, depois que eu sai da escola e fique um tempo em casa, como era uma cidade pequena não repercutiu muito pra fora então quando meu pai teve a chance de aumentar a carreira política dele não hesitou em nos arrastar para Londres com ele, e eu tive que aceitar o que a vida me reservou e vir sem reclamar.Mas ainda bem que eu fiz isso, quer saber por que? É aqui que a minha história realmente começa a ficar boa...


A Fanfic é nova, está também sendo postada em outro site, mas como é de minha autoria decidi postar aqui para vocês :'))) Ela não tem uma sinopse definida mesmo, assim como todas as outras ela tem um significado muito importante para mim, mas não consegui definir em poucas palavras para criar uma sinopse.